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Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito. Do meu quarto ouço a fuzilaria. As amadas torcem-se de gozo. Oh quanta matéria para os jornais. Desiludidos mas fotografados, escreveram cartas explicativas, tomaram todas as providências para o remorso das amadas. Pum pum pum adeus, enjoada. Eu vou, tu ficas, mas os veremos seja no claro céu ou no turvo inferno. Os médicos estão fazendo a autópsiados desiludidos que se mataram. Que grandes corações eles possuíam. Vísceras imensas, tripas sentimentais e um estômago cheio de poesia... Agora vamos para o cemitério levar os corpos dos desiludidos encaixotados completamente (paixões de primeira e de segunda classe). Os desiludidos seguem iludidos, sem coração, sem tripas, sem amor. Única fortuna, os seus dentes de ouro não servirão de lastro financeiro e cobertos de terra perderão o brilho enquanto as amadas dançarão um samba bravo, violento, sobre a tumba deles. 

         Ouça o poema de Carlos Drummond, declamado por Fernanda Torres





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